terça-feira, 20 de outubro de 2009

MARCELO D2, queimando tudo até a última ponta!




Por Sandro Neiva

Marcelo Maldonado Gomes Peixoto, ou simplesmente Marcelo D2, é hoje considerado um dos maiores nomes da música nacional. Absolutamente integrado às frescuragens típicas do mainstream, o artista vai ao Faustão, ao Gugu, faz turnê internacional e seu rap-samba-rock é tilha sonora de novela global. Mas a vida nem sempre foi uma deliciosa larica. Em 1997, quando ainda era líder da extinta e polêmica banda Planet Hemp, D2 foi preso após um show em Brasília e puxou oito dias de xilindró, acusado de apologia da maconha. O artista me concedeu essa entrevista descontraída, no saguão de um hotel da Capital Federal. A conversa gira em torno de baseados, Cannabis Cup, Amsterdã e... ah, sim! já ia me esquecendo… ele falou também sobre música (risos), MST, eleições para presidente e otras cositas más. Confira.

Qual sua opinião sobre a qualidade da maconha brasileira?
MARCELO D2 – Aqui não tem a boa mesmo. Em toda a Europa, e principalmente na Califórnia, o fumo é bem tratado, faz menos mal para o pulmão. No Brasil, as pessoas fumam amônia que os traficantes colocam para disfarçar da polícia, fumam um monte de merda. A não ser em Pernambuco, que tem aquele bagulho soltinho, mas que é bem fraquinho.

Fale sobre a experiência de participar de uma Cannabis Cup (torneio anual realizado em Amsterdã, que elege o melhor beck do mundo) na Holanda.
MARCELO D2 – A Cannabis Cup é uma parada muito séria. Existe uma indústria de cannabis no mundo inteiro. O Fernando Gabeira até tentou trazer sementes, que depois foram apreendidas. Um absurdo. O Planet Hemp tocou no torneio de 1997. Durante o dia rolam encontros de fabricantes de sabão em pó, de roupas, de papel, tudo feito de cânhamo. Acontecem também debates, em que as pessoas contam suas experiências, contam como é a repressão policial em seus países. E à noite rolam as festas, shows, a bagunça mesmo. Gente do mundo todo se reúne para a degustação. Fomos a convite da revista Trip, para olhar como era. Várias paradas acontecendo ao mesmo tempo, em toda a cidade. Foi muito maneiro.

Você acredita que a opinião pública no Brasil está mostrando uma maior aceitação em relação ao tema “maconha”?
MARCELO D2 – Com certeza. De uns anos pra cá, mudou pra caramba. Antigamente, se você fosse falar de maconha, tinha que falar bem baixinho, não era uma palavra normal. Hoje em dia as pessoas estão mais abertas, mas por outro lado, é tudo muito de onda também. Ninguém entende porra nenhuma do assunto, ninguém tem uma opinião própria formada, ninguém pesquisa muito sobre o tema. As pesquisas mostram uma oscilação. Agora 60% estão a favor e 40% estão contra, depois o contrário, saca? O debate sobre a legalização tem evoluído muito. O que ocorre é que somos um país de Terceiro Mundo. Aqui no Brasil o governo nunca vai tomar a decisão de legalizar a maconha. Não temos nenhum governante que tenha peito para tomar uma decisão dessas. A opinião pública é forjada e esses caras só tomariam uma decisão assim depois que a França, Inglaterra ou Estados Unidos tomassem.

Por falar nisso, você tem candidato a presidente para as próximas eleições?
MARCELO D2 – Não. Eu não voto há muito tempo. Eu só votarei no dia em que pintar um candidato forte de verdade. Por enquanto está ruim, só tem bundão.

Houve um show em que você apareceu enrolado a uma bandeira do Movimento dos Trabalhadores-Sem-Terra. O que você acha da atitude do MST, ao invadir prédios públicos e fazendas?
MARCELO D2 – É errado invadir e destruir. Mas é um movimento pacífico e sério pra caramba. Poucos países do mundo têm movimentos sérios como o MST. Eu visto a camisa literalmente porque é o povo lutando por sua fatia no bolo.

Você declarou na revista Playboy que já roubou muito toca-fitas. Você não teme que isso possa influenciar negativamente os fãs adolescentes?
MARCELO D2 – Eu estava falando sobre minha vida. Cada um deve saber o que faz da sua. Se o cara começar a fumar maconha só porque o D2 fuma, se o cara começar a dar o cu porque o Clodovil dá, o cara é um bosta. É gente assim que entra em cinema dando tiro em todo mundo, que toca fogo em índio. Eu decidi quais caminhos eu devo seguir, mas eu não posso me responsabilizar pela atitude de outras pessoas. Não estou aqui para ser um mensageiro da verdade, só estou fazendo um som e falando o que penso.

Você também afirmou na Playboy que jamais fumou crack…
MARCELO D2 – É mentira… fumei sim (risos).

E heroína?
MARCELO D2 – Já cheirei. Não tomei "nos canos" porque tenho medo de agulha. Usei em São Paulo e Amsterdã. Em são Paulo foi com aqueles beatniks velhos e loucos. Foi uma heroína branca, asiática.

Quando o Planet Hemp ficou preso por oito dias em Brasília, rolou algum baseadinho ou vocês ficaram só na fissura?
MARCELO D2 – Ficamos os oito dias na fissura mesmo, cara. Não deu pra rolar nada, a gente tava muito tenso. O único pensamento era sair dali o mais rápido possível. Aliás, eu senti mais falta da cerveja que do baseado.

Chega de drogas, vamos falar de música… cite cinco discos que considera fundamentais. E o que tem escutado?
MARCELO D2 – O primeiro do Wu Tang Clan, o primeiro do De La Soul, o Paul’s Boutique e o Raising Hell, dos Beastie Boys e Booggiedown Productions. Esses cinco discos não podem faltar numa coleção que se preze. Eu escuto muita coisa antiga: jazz, funk, reggae, samba, bossa nova. Mas o que mais ouço é hip hop mesmo.

Como você avalia o rap e o hip hop brasileiros?
MARCELO D2 – Eu acho que o rap nacional tem que tomar identidade. Os Racionais MC’s são muito bons, mas todas as bandas estão copiando. O Mano Brow mesmo fala isso. Você vai a Fortaleza ou a Maceió e os caras dizem: “cerrto mano. É nois na fita, tá ligado?" (imita com sotaque de paulista). Outra coisa que falta no hip hop brasileiro é passar um pouco de cultura para o povo. Pra mim, o hip hop é pegar ônibus, pichar muro e ir trabalhar. O rap é a trilha sonora, o break é a dança, o grafite é a arte. Assim como o samba antigo, o hip hop tenta elevar o moral das pessoas. Quando um moleque de 16, 17 anos não sabe que caminho deve tomar, é nessa hora que a música rap entra com a mensagem de “levante a cabeça e siga em frente que você vencerá. Mas isso não significa dar conselhos, que tá por fora. Expor uma opinião própria, tudo bem. A mensagem é: “vamos tocar o terror, pois a gente é mais forte que eles”.


Qual sua opinião sobre a distribuição de músicas em Mp3, via internet?
MARCELO D2 – É muita hipocrisia um multimilionário de uma gravadora reclamar dessa questão. Burlou um pouco a lei, eu já acho maneiro. É uma forma diferente e democrática do som chegar ao ouvido das pessoas. A gravadora é que tem que se preocupar com essa porra, eu não quero nem saber.


5 comentários:

  1. "Eu continuo queimando tudo até a última ponta..."

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  2. Acho que a entrevista - muito boa, por sinal, com perguntas e respostas inteligentes, pertinentes e atuais - tende a cumprir seu papel social, qual seja, entre tantos outros, o de informar e ao mesmo tempo suscitar o debate sobre determinada(s) questão(ões) de interesse geral (ainda que dissimulado), fazendo com que, no mínimo, reflitamos sobre o(s)assunto(s).
    Obrigada aos dois - entrevistando e entrevistado - pela oportunidade. E parabéns pela coragem! rs
    Com meu abraço,
    Marina "Morena"

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  3. eu axei a melhor entrevista do D2 cara esse cara tem toda sabedoria do mundo valeu meu amiguinho marcelo D22222
    abraços

    jeferson Sp monte alto

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  4. Entrevista do caralio. Parabens!

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