quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Muita estrela pra pouca constelação


Por Sandro Neiva


Mesmo espremido pela arquitetura excludente da ficção urbanóide engendrada por Niemayer e Lúcio Costa – viver aqui em Brasília até que tem lá suas vantagens: quase todos os dias é possível assistir a shows diferentes na Esplanada do Poder.


Hoje são os estudantes da UNE emputecidos com a fraude do ENEM. Ontem foram os monocultures que devastam o cerrado com suas ceifadeiras agrícolas. Amanhã podem ser as mulheres dos militares ou os simpatizantes do uso de células-tronco;


Na próxima semana serão os que combatem o aborto, a eutanásia e os que defendem a libertinagem dos padres. No próximo mês virão os criminosos xiitas do MST ou pode ser a vez dos que lucram com as vidas despedaçadas dos meninos de rua. Mas talvez seja apenas mais uma caravana de vereadores e prefeitos, em busca de mais leite na têta;


Depois chega a Proclamação da República e certamente o circo de quinta categoria será novamente armado e encenado. Numa quarta-feira-qualquer aparecem os funcionários de cassinos e na mesma tarde os professores ameaçam entrar em greve de fome. E então já é quinta-feira e para os parlamentares já é o fim do expediente semanal, dia de mais um vôo para seus estados de origem. Daí a corte vira uma calmaria só.


Curiosamente, na década e meia que habito este deserto, nunca vi uma passeata de banqueiros, nem de comerciantes, nem de juízes, muito menos de políticos. Aqui em Brasília também nunca tive conhecimento de protesto organizado por agiotas nem por donos de imobiliárias. Nunca ouvi falar em manifestação das pessoas que contraíram câncer por causa da ação das mineradoras transnacionais nem em protesto de jornalistas que tiveram seus diplomas jogados no lixo pelo Supremo Tribunal Federal.




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