quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Brasília, a cidade esquizóide!


Por Sandro Neiva

O Distrito Federal mais do que nunca se configura num território ímpar desta terra brasilis, atolado num lamaçal de estrume, um esgoto sem fundo onde os vermes mais horrendos se contorcem sobre montanhas de lodo.

O líder da quadrilha da corrupção, José Roberto Arruda, continua preso numa cela maior que meu apartamento e, exatamente como os traficantes encarcerados de todo o país, comanda a corja do GDF via telefone celular. Do cárcere localizado na sede da PF Arruda escolheu um testa-de-ferro para assumir o governo do Distrito Federal. Trata-se do obscuro deputado Wilson Lima, que concluiu apenas o Ensino Médio e já circulou por trocentos partidos.

O ricaço Paulo Otávio, que sempre sonhou ser governador, pediu pra sair com poucos dias na liderança da Câmara. Foi obrigado a renunciar antes de sentir o gostinho do cargo. O cara é um dos empresários mais ricos do Brasil, dono de uma fortuna sem limites e ainda assim, tem seu nome sujo no escândalo do mensalão. Você não precisa disso, cara-pálida! Eu rogo uma maldição para que a ganância de poder ainda extermine todos esses crápulas.

A Assembléia Legislativa está nas mãos de um cabo da Polícia Militar e um palácio descomunal já está quase pronto para abrigar a calhordagem parlamentar composta também por víboras e serpentes como as caras deputadas distritais Eurides Brito e Eliana Pedrosa. Caras mesmo! O custo para manter o “trabalho” de cada deputado distrital este ano ultrapassará 15 milhões de reais. Dinheiro de impostos que, em média, representa R$ 135 do bolso de cada contribuinte. Isso sim, merecia uma Intervenção Federal.

Enquanto uma senhora decrépita fazia plantão em frente ao cárcere do governador preso e orava pelo pilantra, universitários faziam plantão em frente à Assembléia Legislativa e chegaram a jogar sacos de bosta na entrada do lugar. Deveriam receber um prêmio Honoris Causa pela nobre atitude e pelos protestos diários, já que são dos poucos que não foram dominados pela apatia e resignação aterradora.

A turba está curtindo a ressaca do carnaval e do Ceilambódramo, mas espera avidamente a festa de aniversário de Brasília. Em tempos mais calmos, doce época em que tudo era festa, o GDF chegou a anunciar que iria trazer Paul MCartney para uma apresentação na capital. Num delírio de grandeza e sentimento de impunidade, falou-se em trazer Madonna, U2 e até Beyoncé. Vão ter que se contentar com Capital Inicial e NXzero! Faria mais sentido shows com as bandas punks da cidade.

Enquanto isso, no mesmo ritmo do “reboleichom” e do funil da corrupção que escorre no topo da pirâmide social, a dengue vai se alastrando pelas periferias do DF e a popularidade do Roriz também...



terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A prisão do governador Arruda e o tormento Globeleza




Por Sandro Neiva

Depois de duas semanas vagabundeando com minha companheira pelos arredores de Serra Grande, no litoral sul baiano, é hora de retornar pra casa. Passar 14 dias sem televisão, sem celular, sem internet, sem rádio de pilha e sem a menor preocupação com o resto do mundo foi uma vitória e tanto como ser humano.

Começa o sofrimento e a saga de enfrentar 30 horas de Ilhéus a Brasília num busão capenga da Viação Novo Horizonte. A beleza da mata atlântica vai ficando pra trás e nosso veículo mais parece uma carroça motorizada cruzando a sequidão da caatinga e a dureza das estradas vicinais no sertão da Bahia. Um Conhaque Presidente em cada parada bem que ajudou no martírio.

Numa banca de beira de estrada compro um exemplar do jornal soteropolitano A Tarde e a nova edição da revista Veja. Em meio às manjadas notícias de Caetano Veloso, Ivete Sangalo e Carlinhos Brown saracoteando pelos trios elétricos de Salvador, uma nota no canto da página me chamou a atenção: GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL CONTINUA PRESO.

Oh, São Rock ouvira, afinal, minhas preces! Arruda no xilindró! A viagem de volta já não estava tão cruel assim. Até o ar condicionado do baú velho começou a funcionar de uma hora pra outra. Mais uma parada. Dessa vez a fumaça do "coentro" baiano a passear malemolente pelo crânio colaborou para que eu pudesse saborear ainda mais a matéria que a Veja publicara sobre a prisão do governador corrupto.

Enfim, chego em casa e aquele maldito canal que todos conhecem já inferniza o ambiente com mais um desfile das escolas de samba. O tormento já começou.





quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O paraíso de Serra Grande, litoral sul da Bahia


Por Sandro Neiva

Vinte quilômetros de praias primitivas, praticamente desertas em toda sua extensão, e um formidável mar azul de águas mornas e límpidas, que formam um cenário cinematográfico. O paraíso em questão é Serra Grande, distrito de Uruçuca, no litoral sul da Bahia. Uruçuca localiza-se em meio a antigas fazendas de cacau e mais acima, a 300 metros do nível do mar, está o povoado de Serra Grande. A via de acesso é BA-001, Estrada Parque que liga as cidades de Ilhéus e Itacaré.

Entre o mar e as serras recobertas pela Mata Atlântica, o litoral de Serra Grande abriga imensos coqueirais e praias exuberantes que se estendem até sumir de vista. A foz do rio Tijuípe em seu encontro com o oceano é natureza pura, rodeada de cachoeiras, mata virgem preservada, e um mar de água quentinha e transparente, em correntes que se arrebentam lentas e calmas, ao ritmo de Dorival Caymmi.

Na areia fina da praia do Pé de Serra é possível comprar peixe e mariscos frescos diretamente dos jangadeiros e pescadores, que aparecem por ali no final da tarde. A vizinha praia do Sargi, de acesso restrito, tem 4,5 quilômetros de extensão e concentra a maioria das pousadas e restaurantes. Serra Grande está dentro de uma Área de Proteção Ambiental, com singular presença de falésias rochosas e planície costeira com restinga e manguezais. Nesse cenário sinuoso, a natureza brinda os turistas com espetáculos de rara beleza e todo o sol da Bahia. Agora dê licenca, meu rei! Tenho que dar uma descansadinha ali na rede.