quarta-feira, 14 de outubro de 2009

KID VINYL, o senhor do showbizz





Por Sandro Neiva

Cantor, crítico musical, radialista, VJ da MTV, diretor artístico internacional da gravadora Trama – o cara já fez de tudo no mundo da música. Em 1979, foi um dos principais divulgadores do movimento punk no país, quando era locutor da extinta rádio Excelsior FM. Ná década de 1980, fez sucesso em todo o Brasil com os hits “Eu Sou Boy” e “Tic Nervoso”, de sua banda Magazine. Hoje, Aos 53 anos, KID VINYL é uma lenda do showbizz brasileiro, espécie de enciclopédia musical, especialista nas artimanhas do meio. Ele me concedeu esta entrevista em São Paulo, na sede da gravadora Trama – uma das poucas que consegue sobreviver ao MP3/discos piratas e cujo dono é João Marcelo Bôscoli, filho de Elis Regina.


Que tipo de música não entraria na Trama?

KID VINYL – Desde o início a gente decidiu que grupos de pagodeiros tipo Fundo de Quintal e uma série de outros que vieram bater à nossa porta não entraria na Trama. Com o devido respeito aos caras, mas não entram na nossa gravadora. Por quê? Porque é modismo. Então, não é legal, não nos interessa, pois tudo que vira modismo dentro da música brasileira – como pagode e axé – a gente não lança. Se não tem a ver com nossa filosofia, não lançamos de jeito nenhum. Não precisamos nos vender dessa maneira e entrar nesse mercado sujo, eu diria, dessa coisa exclusivamente comercial que as grandes gravadoras ditam.

A Trama também atua no mercado estrangeiro, não é?
KID VINYL – Sim. Nós temos levado a música brasileira ao exterior e a recepção tem sido excelente. Nossos lançamentos estão sendo muito bem aceitos lá fora. Às vezes, até melhor do que aqui, eu diria. O Max de Castro, por exemplo, que é um artista do nosso cast, recentemente foi matéria de capa da revista Time.


O que há de lenda e realidade a respeito do jabá, aquele famoso dinheirinho que as gravadoras distribuem às rádios para que elas veiculem determinados artistas?
KID VINYL – Na verdade, a prática do jabá é absolutamente comum e é controlada pelas rádios em geral. Hoje, a rádio é um espaço comercial. Uma grande emissora oferece espaços comerciais e está sempre aberta às grandes gravadoras, que chegam e compram o pacote com tantas execuções. O preço é combinado e é emitida até mesmo uma nota fiscal, se for preciso. Quer dizer, é um dinheiro considerado como verba lícita, porque eles vendem como espaço comercial. Ninguém pode processar os caras porque acima de tudo, o rádio é um veículo de comércio, então, eles estão sempre juridicamente amparados. Cada minuto é vendável, e ele pode ser preenchido com música, com comercial ou qualquer outra coisa. Não há como criticar muito o jabá, pois é uma maneira que as gravadoras têm de anunciar sua música, que também acaba sendo um produto como qualquer outro. Digamos que não é a maneira correta, mas infelizmente a coisa funciona dessa maneira.


Na sua opinião, qual o caminho que a música brasileira irá trilhar nos próximos 10 anos?
KID VINYL – A fusão de música brasileira com elementos de música eletrônica, apesar de ser incipiente e estar apenas engatinhando é muito saudável, é um parâmetro para o que deve vir por aí nos próximos anos. Eu acredito também muito na geração que veio após o Chico César: O Zeca Baleiro, o Lenine, mas estes são nomes que já se consolidaram. A Trama está lançando uma geração na qual eu acredito bastante, mas é lógico que existem outros nomes interessantes, muita gente que nem foi descoberta pelas gravadoras, mas com propostas muito boas.


Quais os lançamentos internacionais da Trama na linha de rock?
KID VINYL – Lançamos MC5, Bad Brains, New York Dolls, Johnny Thunders, e vamos soltar ainda outras bandas fundamentais para quem entende e gosta de rock alternativo. Todo esse material vem do catálogo do selo Americano Rior, que é especializado em resgate de sons raros, gravações ao vivo, obscuras. Damos uma peneirada no catálogo para ver o que vale a pena e lançamos alguns nomes.


Em tempos de troca de arquivos gratuitos de mp3 via internet, qual a vendagem mínima que um artista deve alcançar para que um lançamento dê retorno comercial?
KID VINYL – Para um disco internacional, se vender mil cópias já vale a pena, já paga os gastos do lançamento. Para um disco nacional, depende muito do quanto é gasto na produção. Se for gasto, por exemplo, 50 mil reais para se fazer o disco, tem que se vender pelo menos 10 mil cópias para se atingir o chamado breaking even, que é o equilíbrio, a vendagem minima necessária para ser viável comercialmente.


Você acredita que a juventude atual está mais aberta a novos sons que no passado?
KID VINYL – Eu não sei. Eu gostaria que realmente estivesse mais aberta. É lógico que depende muito da formação musical de cada pessoa, mas às vezes penso que a molecada deveria se informar um pouco mais. Apesar de terem internet e ultra-celulares, parece haver um certo comodismo. Todos querem soar como o Green Day e o Offspring, mas poucos conhecem o trabalho dos Mutantes, entendeu? Talvez a culpa não seja só deles, pois não existe uma imprensa musical mais ativa, não há tantos veículos ativos e alternativos que transmitam memória musical, que pudesse mexer com a cabeça deles.


Faça uma breve avaliação do cenário roqueiro no Brasil.
KID VINYL – Acho a cena do rock um pouco dispersa no nosso país. Existem muitos nomes legais e eu sinto falta de essas bandas estarem mais expostas à grande mídia. Há uma carência de sons alternativos no mainstream. No fim, acaba-se ouvindo sempre a mesma coisa ou aquilo que chega das rádios, que é um produto que já chega pasteurizado e massificado. Daí a importância de festivais como o Abril Pro Rock, em Recife e o Porão do Rock, em Brasília, dentre outros. Se a cena do rock alternativo conseguisse se expor mais à mídia como a música eletrônica consegue, a coisa funcionaria melhor.



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