terça-feira, 22 de dezembro de 2009

É NATAL!


Por Sandro Neiva

E então é natal! A espécie humana corre afoita e desvairada aos açougues, salões e shopping centers. As mesmas malditas filas por todos os lados! E nada muda! São as mesmas bijuterias de mau gosto, os mesmos caixotes envoltos em papel alumínio, os mesmos vinhos e espumantes baratos. Sempre e sempre o mesmo simulacro dos telefonemas melosos, da autocompaixão culposa em forma de generosidade, da mediocridade em forma de amor ao próximo e da esmola travestida de humanismo.

Chega das terríveis rabanadas e dessa compulsão desenfreada pela gula! Que todos os leitões e perus sacrificados para encher os panelaços e a pança das multidões atormentem a todos nos pesadelos e nas privadas. Não mais à felicidade forjada e à alegria simulada. Chega de odiosas listinhas (in)voluntárias para os porteiros. Chega do famigerado "amigo oculto". Chega de caixinhas de natal. Chega de papai noel que presenteia os ricos e cospe nos pobres. Enfim, chega de tanta hipocrisia, babaquice e nivelamento por baixo.



segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Leis contra o abuso da fé pública


Por Sandro Neiva

As pregações religiosas que infestam as televisões do país no horário do almoço são tão repugnantes quanto o lamaçal fedorento de corrupção no qual está atolado o governo do Distrito Federal.

A deplorável histeria coletiva em quase todos os canais abertos merece uma intervenção federal. O Supremo Tribunal deveria criar mecanismos para impedir que qualquer sujeito que se identifique como pastor, padre ou coisa equivalente, possa candidatar-se a cargos políticos e muito menos que receba concessão de rádios e de televisões ou possa dirigir instituições filantrópicas.

Todos os programas televisivos com temática religiosa devem ser considerados propaganda enganosa, semelhante à apologia do crack. O Assédio religioso institucionalizado deve ser tratado na mesma esfera que o assédio sexual ou moral.

Se temos leis tão severas com relação às falsificações de dinheiro e de remédios, deveríamos, pelo mesmo princípio, ter leis igualmente rigorosas no que diz respeito às falsificações da fé, ao charlatanismo da crença e às manipulações emocionais das confrarias do sobrenatural sobre as massas sem instrução.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A farsa dos sabichões


Por Sandro Neiva

Num país cuja população básica é de analfabetos, não é de se admirar que aqueles sujeitos que possuem um conhecimento mediano – que sabem recitar tanto Freud quanto Santo Agostinho – sejam considerados pequenas divindades, gênios, intelectuais.

Um exemplo clássico pode ser o daquele escritor de best-sellers, outrora parceiro de Raul Seixas, que virou até mago! – apesar de ser um caso típico de escritor comum, continua sendo apresentado pela mídia como superdotado, um herói poliglota e um cidadão honoris causa.

Para que esse espetáculo tenha êxito, basta a cumplicidade dos meios de comunicação e, claro, as chaves do poder.

No mundo intelectualóide e da política existe algo ainda pior – o pacto de promoção mútua. Filósofos elogiam filósofos; prefeitos aplaudem prefeitos; doutores defendem doutores, bispos santificam outros bispos e assim se eterniza o espetáculo da diplomacia-vaselina e da politicagem nauseabunda.

Quem tem a mínima vivência acadêmica sabe muito bem como funciona o referido marketing e como agem os intelectuais-políticos ou os políticos-intelectuais para mistificarem-se mutuamente.

Fulano de Tal da UnB convida o Sicrano de Tal da UFMG para “dar uma conferência” e logo depois o Sicrano de Tal da UFMG, em retribuição, convida o Fulano de Tal da UnB para o lançamento de um livro ou para “dar um seminário”.

Nos tais eventos artificiais ou fictícios, não acontece nada e não aparece ninguém. Mas como o que importa para os dois lados é o teatro da vaidade e o Curricullum Lattes, tudo é devidamente encenado, como algo fundamental para a edificação de um Saber maior.

Um filósofo escreve no jornal que outro filósofo é uma genialidade e logo em seguida é retribuído com gratidão no mesmo jornal, como a revelação acadêmica do século. Recebe, então, uma bolsa de pesquisa, honorários, títulos, promoções, passagens etc.

Se não produzem praticamente nada de útil, pelo menos podem desfrutar bons momentos nos hotéis, restaurantes e aviões,– sempre fazendo de conta que estão dedicando a vida a um projeto humanista.

E assim, nessa espécie de pingue-pongue repugnante, certos de que "cumpriram com sua missão", seguem a boa vida. Um pé na universidade e outro na igreja; uma nádega numa prefeitura e outra numa transnacional.

Encantadas, as massas de leitores aplaudem.




quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

As propostas “ecológicas” do Brasil na Conferência Internacional do Clima


Por Sandro Neiva

Fico imaginando a quantidade de “porta-vozes” inúteis que o Brasil enviou para a Conferência do Clima, em Copenhague.

É quase inacreditável que um país como o Brasil – que não dispõe sequer de saneamento básico ou transporte coletivo decente e onde a maioria dos produtos agrícolas estão envenenados por agrotóxico; que ainda não conseguiu livrar-se do lixo, das bactérias e das infecções hospitalares, – ainda insista em levar para a Europa alguma pauta “ecológica” ou proposta que possa ser levada a sério.

Dilma Roussef e sua trupe, com ideias revolucionárias e mirabolantes a respeito do “desenvolvimento sustentável” do Brasil e do resto do planeta.

Como se não tivessem nada a ver com o sufocamento e agonia dos nossos rios ou com a epidemia criminosa de automóveis nas ruas. Até parece que não são os únicos responsáveis pela fumaceira dos ônibus, pela devastação das mineradoras transnacionais e pela falta de esgotos em todos os cantos da América Latina.

Como podem morar em Brasília e cacarejar sobre meio ambiente? A ganância insana os faz abrir as pernas para a destruição de seu próprio bioma virgem. É vergonhosa a subserviência-vaselina às grandes construtoras que edificam condomínios de luxo para os novos ricos. Vide o futuro Setor Noroeste da Capital Federal e o metro quadrado de dez mil reais, numa exuberante área de cerrado. E ainda falam que será um modelo de moradia ecológica. Tá bom. E no rabo, não vai nada?




terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A merda do Lula


Por Sandro Neiva

Liguei a TV e lá estava o Lula, no Maranhão, de novo falando merda. A princípio, não haveria novidade alguma, afinal o presidente vive falando merda mesmo.

Exceto quando ele fala “pobrema”, não tenho grandes preconceitos quanto à versatilidade e alcance vocabular do Ilustre Presidente. Acharia muito legal se ele tomasse umas cachaças a mais e começasse a soltar uns "shit" ou "merde" em reuniões com líderes estrangeiros.

O caso só virou notícia porque Lula literalmente falou “merda” para os brasileiros. Disse algo sobre suas novas estratégias para tirar o povo da merda.

Com todo respeito, boto fé que vai ser tarefa casca-grossa! Ah, boto fé que vai!

Trafegue pelas ruas e calçadas de São Paulo depois de todas essas chuvas, Senhor Presidente, para ver o que acontecerá com teus sapatos caros.

As abas de sua calça importada, caro Luiz Inácio, ficariam lindamente impregnadas da merda transbordada pelo rio Tietê.

Não, Lula, por mais que garganteie pelos palanques que terias sido pobre um dia, não sabes verdadeiramente nada do universo suburbano e nem está a par dos infortúnios coletivos no mundo dos favelados, indigentes e fudidos desse país.

Se tivesses conhecimento, Exmo Presidente, o senhor não falaria tanta merda e faria algo de verdade para tirar as pessoas do fundo do poço do desespero.



segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A felicidade nos bastidores da reunião em Copenhague


Por Sandro Neiva

Enquanto você está aí comendo seu churrasquinho de acém, depois de mais um dia de labuta, tomando sua cerveja barata ou respirando o ar poluído gerado pelas indústrias, – a cúpula internacional do clima está reunida em Copenhague, na Dinamarca.

A canalhice não se resume ao sujeito que aparece na TV, enfileirado, acenando os braços para as câmeras e jurando que vai resolver os problemas ambientais do planeta. Não. O verdadeiro balaco-baco acontece com a turminha que faz a retaguarda dos Chefes de Estado.

Cada um desses “estadistas” leva atrás de si uma legião de puxa-sacos, bajuladores, carregadores de malas, lustradores de sapatos, lavadores de cuecas etc. São funcionários da diplomacia, parentes, amigos, lobbistas, esposas, amantes, voluntários, médicos, psicólogos, jornalistas particulares, massagistas e seguranças.

A corja lota os hotéis cinco estrelas, os restaurantes e os cafés mais caros. Fingem que estão sempre apressados, que são importantes e que vão mudar as estruturas desta sociedade injusta. E enquanto uns correm de um lado para o outro, com seus crachás, celulares e laptops, – dando sustentabilidade ao teatro da seriedade – as madames deste ou daquele executivo hedonista que conseguiu uma vaguinha na comitiva, chamam um táxi e vão fazer compras nas boutiques dinamarquesas. Além dos perfumes caros, aproveitam também para comprar gravatas e paletós para seus maridos.

Nos bastidores da reunião sobre os rumos globais do meio ambiente, a felicidade é geral e os elogios são mútuos. “Um champanhe francês para comemorar a fala de nosso chefe”! Radiantes e cúmplices na mentira, vão amenizando assim, a culpa pela negligência histórica.

Então chega a noite. Um punhado de euros e dólares no interior do paletó, cartões corporativos e um táxi rumo aos puteiros de requinte. Ao amanhecer, todos estão visivelmente felizes e encontram-se no café antes de reiniciarem o teatro para a imprensa, lá no auditório.

Pois é! E você que está aí, palitando os dentes, depois de devorar seu churrasquinho de acém, o jeito é abrir mais uma latinha de cerveja barata e continuar tossindo seco por causa da poluição. Melhor voltar pro cortiço e acompanhar tudo pela TV. E não adianta xingar. Estas são as manobras clássicas e legítimas dos homens que você próprio colocou no poder e escolheu para lhe representar.



sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Violência a favor da corrupção


Por Sandro Neiva

No dia mundial de combate à corrupção, manifestantes de Brasília foram reprimidos com violência extrema pela Tropa de Choque e pisoteados sem dó pela cavalaria da Polícia Militar. O motivo? Protesto pacífico, sem armas, contra o escândalo de dinheiro na cueca, no paletó, nas meias, nas bolsas, nos bolsos e no cu dos abutres do GDF.

Depois do vendaval de violência é verdadeiramente impressionante ouvir os discursos do Secretário de Segurança Pública, dos comandantes da PM, do governador, dos deputados distritais, dos assessores, dos delegados, das Ongs, da CNBB, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Alexandre Garcia e de outros “responsáveis” pela Ordem Nacional.

No embalo de toda essa falação surrealista, é importante considerar que: mesmo que o governo desfile seus cavalos, bombas de gás, escudos e cassetetes pelas ruas, mesmo que crie comissões mil, mesmo que cante de galo, que mistifique o judiciário, que invoque a Constituição, que libere milhões de reais pra todo lado, nada terá sentido algum se não se mudar, o mais rápido possível, o tratamento dado aos corruptos.

Enquanto isso, continua parado na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei de iniciativa popular (1,3 mihão de assinaturas) que proíbe a candidatura dos políticos de “ficha suja”.

As férias de noventa dias, as convocações parlamentares extraordinárias remuneradas, os apartamentos funcionais, os passaportes especiais, as passagens, a imunidade parlamentar etc. Tudo isso é motivo de indignação popular, mas não é tudo, diante de todo o surrealismo que ocorre nos bastidores desse doce mundo de privilégios.

O político profissional e os critérios viciosos para sua candidatura; a quantidade assustadora de poderes que lhe é concedido. A dialética bem que poderia seguir nesse rumo. Mudanças radicais. O salário do parlamentar passará a ser o mesmo que recebia em sua atividade profissional anterior; o parlamentar deverá permanecer na cidade pela qual se elegeu trabalhando via internet; e por fim, deverá obrigatoriamente apresentar-se todos os meses à Polícia e à Receita Federal. Poderíamos assim nos livrar da praga da corrupção?


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A lábia maldita dos impostores


Por Sandro Neiva

As enchentes e os desmoronamentos causados pelas chuvas intensas em nosso país têm tido sempre o mesmo enredo. A dor e o pranto das vítimas é estampado perversamente na mídia e então todos ficam repentinamente comovidos. Mas a imprensa cortesã poupa e protege a classe política de sua própria negligência.

Acendem-se velas. Toneladas de alimentos são arrecadados e milhares de cobertores são recolhidos. As hienas parlamentares vão à tribuna e abusam do verbo e das verbas, fazem discursos ao lado dos caixões, criam leis complementares e igualmente inúteis, fazem e acontecem com sua lábia maldita e tudo fica como está.

Os impostores cabotinos fazem acreditar que estão semeando franciscanamente os grãos de uma política social libertária, quando na verdade estão apenas garantindo seus salários fabulosos e perpetuando-se no cenário da politicagem.

É verdadeiramente trágico que esses crocodilos sorridentes consigam fazer tantas reuniões e seguir dizendo as mesmas falácias durante anos, sem, na prática, – apesar de todo o dinheiro que já foi destinado e gasto para essa finalidade – terem conseguido fazer o mínimo daquilo que lhes foi confiado.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Prece da corrupção




Por Sandro Neiva

Oh Senhor Deus todo poderoso! Obrigado por fazer-nos corruptos! Obrigado por fazer-nos entender que só o Dinheiro salva! Oh, Como és poderoso! Depois de ti, só os pacotes de notas de cem reais! Tu que tens todo o poder do mundo, Oh, Senhor Amado, afaste de nosso caminho a Polícia Federal! Tu, em tua Onipotência, sabes que roubamos para o bem das cidades satélites, para a salvação dos milhares de detritos que vivem na Estrutural! Glória, glória e poupe-nos de qualquer punição! Aleluia! Proteja-nos e ajude-nos a cuidar daqueles seres-excrementos que nos elegem e lambem nossos bagos das 8 da manhã às 6 da tarde. Senhor! Ajude também aqueles que nos corrompem e garantem o leite de nossos filhinhos. Oh Senhor, só tu sabes que por nós o mundo seria diferente. Tu, Senhor Todo Poderoso, oh Santo Deus, que conheces nossa miséria e ruína moral, vós que sabeis a origem de nosso mau-caratismo, defendei-nos daqueles que nos invejam e daqueles que querem o nosso mal. Aleluia! Em nome do pai, do filho e do Dinheiro Santo! Amém!


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A gatunagem do governador Arruda e a vitória do Flamengo



Por Sandro Neiva

A roubalheira do mensalão mal acabou de ser sepultada, eis que os gatunos do GDF já tramaram outra, nos mesmos moldes, com o mesmo escárnio e deboche. Enquanto o governador Arruda e sua súcia eram filmados empacotando fardos de dinheiro sujo em tramas mafiosas – o cidadão comum, sem propinas ou salários fabulosos, estava entorpecido pela vitória do Flamengo.

Quem conhece de perto a dialética dos porcos sabe que num amanhã muito próximo, os mesmos gatunos estarão em prantos, pedindo perdão, forjando “mal-entendidos” e jurando por Nosso Senhor Jesus Cristo que irão se regenerar. Mas quem guarda na memória o semblante hipócrita dessas hienas, sabe que a recuperação de criminosos de alta periculosidade é praticamente impossível.

As populações, aos pedaços, não sabem o que fazer para interromper o processo corrosivo de corrupção e canalhice em que estão mergulhadas. A reeleição secular de corruptos, o delírio de imaginar que aquele candidato ou aquele partido podem ser melhores ou diferentes que os atuais, a passividade crônica e o futebol são os instrumentos tradicionais desse autoaniquilamento e dessa Idade Média que insiste em não terminar.

Enquanto isso, onde estariam os nossos filósofos de turno, comprometidos com a verdade? E os acadêmicos de plantão? Para onde foram os tais homens que dedicaram suas vidas para teorizar sobre os pobres e desgraçados do planeta? Onde está a imprensa cortesã? E os anarco-punks incendiários, onde estão? Onde estão os homens que têm bagos nesse país?

Na ausência desses personagens, a classe média segue obesa e triunfante…

Se a falcatrua tivesse acontecido no Japão, ocorreria suicídio em massa da classe política. Se houvesse acontecido na Coréia do Norte, os estudantes e ativistas já teriam incendiado o palácio do governo. Mas aqui por nossas paragens é mais cômodo comemorar a vitória do mengão.

Enquanto os próximos capítulos e episódios dessa minisérie estão sendo montados, recibos, números de contas, escrituras de fazendas, mansões nos Lagos Norte e Sul, prédios no Noroeste, documentos e pistas vão sendo ocultadas e jogadas para debaixo do tapete. A raça dos cães é a mesma, só mudam as coleiras.