terça-feira, 27 de outubro de 2009

O enxofre do diabo




Por Sandro Neiva



Há dez anos o Brasil era o maior produtor mundial de açúcar e mais da metade da produção era destinada ao mercado exterior. Hoje, nem a Europa nem os Estados Unidos querem saber do açúcar brasileiro. O motivo? quantidades excessivas de enxofre, consideradas não compatíveis com a saúde dos consumidores europeus e norteamericanos.


Algumas indústrias já começaram a abandonar a utilização de enxofre no processo de branqueamento do açúcar, substituindo-o pelo ozônio. Além da garantia de um produto mais saudável - tanto para consumidores quanto para as pessoas envolvidas na fabricação -, o açúcar ozonizado alcança um maior valor de mercado.


É intrigante o descaso governamental a respeito do enxofre – elemento químico venenoso indicado pela letra S e pelo número atômico 16. Na antiguidade, os chineses utilizavam o enxofre na produção da pólvora. Mais tarde foi condensado na cabeça dos palitos de fósforo, usado no processo de clareamento do açúcar e até na fabricação de baterias.


Assim como os mineradores e as lideranças governamentais têm conhecimento do poder letal do arsênio na poeira nossa de cada dia, os usineiros e as tais lideranças governamentais também sabem do poder letal do enxofre no cafezinho nosso de cada dia. É muito provável que saibam também que altas concentrações desse produto vulcânico em reação com a água dos pulmões provocam a formação de ácido sulfúrico, causando hemorragias que podem mandar o sujeito para o inferno. A propósito, seria esta a origem da crendice folclórico-popular de que o inferno e o diabo federiam a enxofre?


Basta fazermos um exercício de coerência dedutiva e não é difícil imaginar o perigo que deve estar embutido nos molhos, enlatados e demais porcarias à venda em qualquer esquina. Pelo menos, a partir de agora, sabemos que além do excesso de açúcar que as garçonetes energúmenas costumam colocar nos nossos sucos e cafés, há também um excesso criminoso de enxofre. E o pior, com a conivência de órgãos estatais como a Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária.


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