quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Selo do Canadá lança novo LP da banda BESTHÖVEN


Por Sandro Neiva

o LP Seeking Shelter in the Darkness of War – da banda BESTHÖVEN – já havia sido lançado no exterior há um ano pelo selo canadense Aph Records e finalmente chega ao Brasil. Doze sons destruidores do mais puro D-Beat-da-Morte – sendo dez totalmente inéditos, mais regravação de Medo da Guerra (som de 1996, presente na demo Os Mortos Insepultos) e ainda uma cover do grupo sueco DISCARD para a música Death Race (demo de 1985, Sounds of War).

O álbum é confeccionado em papel grosso e no encarte há todas as letras, informações extras e ainda um superposter da BESTHÖVEN, em tamanho 60 por 45 centímetros. Artigo de luxo, que enche os olhos de colecionadores e aficcionados do mundo inteiro. O problema é que das 50 cópias combinadas, o selo do Canadá disponibilizou apenas 20 para o Brasil.

“Esse LP é especial para mim pois foi todo planejado e trabalhado em cima de infuências específicas de três discos: Why 12 (Discharge); Once The War Started (Disclose); e Warcry 12 (Disaster), além, é claro, das demais influências naturais e já visíveis no trampo da banda”, diz o multiinstrumentista Fofão Discrust – mentor e único membro definitivo da BESTHÖVEN, ­– diretamente do Gama (DF).

O músico gamense informa ainda que em breve entrará em estúdio para gravar um EP tributo às antigas bandas hardcore da Suécia e também lançará um clip-promo do disco pela PERVITIN FILMES. Vem mais D-Beat-da-Morte por aí!

Entre em contato diretamente com Fofão e garanta seu Long Play por 30 lascas. Lembre-se que são apenas 20 cópias para o Brasil inteiro, portanto, seja rápido!

Email: discordiarecords@hotmail.com
Fone (61) 9101 2645
Para curtir BESTHÖVEN na internet acesse
www.myspace.com/besthoven





segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pervitin Filmes lança DVD com SUICIDAL TENDENCIES ao vivo em Brasília

Por Sandro Neiva

Atenção Suicyco-maniacs brasilienses e demais fãs da banda norte-americana de skate-punk SUICIDAL TENDENCIES. A Pervitin Filmes acaba de lançar em DVD a apresentação do grupo de Venice, tocando ao vivo em Brasília, durante o Festival Porão do Rock de 2008. O DVD tem 65 minutos de duração, 14 faixas, incluindo
clássicos como “Send Me Your Money”, “How Will I Laugh Tomorrow”, “Possessed To Skate” e “You Can’t Bring Me Down”.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"Ouro de Sangue" (Murro no Olho)

Música que a banda Murro no Olho (DF) compôs para a trilha sonora do filme "Ouro de Sangue". O videoclipe de 2008 mescla imagens da banda punk com cenas da degradação ambiental causada pela mineração de ouro a céu aberto em Paracatu (MG).

"Chuva de Horror" (Murro no Olho)

Videoclipe da banda punk brasiliense Murro no Olho, realizado em 2005; faixa do CD demo "A Nova Catacumba"




Murro no Olho - Gravação do CD "A Nova Catacumba" (2005)

Parceria Pervitin Filmes (DF) & Camarela Stúdios (MG)

Por Sandro Neiva

Uma parceria da Pervitin Filmes com a produtora mineira Camarela Stúdios, do cineasta Rodrigo Valle, resultou no vídeo “BRASIL 2020: I’M IN: TÔ DENTRO”. A ideia surgiu a partir de um protesto feito por um jornalista, ativista de mídia independente, em defesa das águas e montanhas de Minas Gerais, durante conferência internacional de meio ambiente, que aconteceu em Belo Horizonte no mês de agosto. Na ocasião, o governador Aécio Neves, fazia lobby às autoridades brasileiras e estrangeiras, em sua campanha a Presidente da República. Este vídeo mostra a verdadeira face do governo de Minas e sua política suja, que entrega as riquezas hídricas e naturais do estado às mineradoras transnacionais.


Ouro de Sangue


Documentário que aborda as consequências socioambientais da mineração de ouro em Paracatu (MG) desde 1987. A transnacional canadense que atua na cidade conseguiu junto aos órgãos ambientais legalmente responsáveis a aprovação de um plano de expansão da mina por mais 30 anos. Aos paracatuenses sobram enormes feridas abertas pelas lavras a céu aberto, venenos químicos, poeira tóxica, população enferma e mortes. Há falas de vizinhos da mineradora, um médico, um geólogo, um Procurador de Justiça Criminal e um diretor da mineradora. Trilha Sonora com Murro no Olho, Amorphis e Type O’Negative. Em 2008, “Ouro De Sangue" participou da 35ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia, realizada em Salvador e do Festival de Cinema Socioambiental, em Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro. Em 2009, o documentário participou do III Festival de Cinema na Floresta, em Alta Floresta, amazônia matogrossense. (Pervitin Filmes – 44min – 2008).

ASSISTA AO FILME NA ÍNTEGRA, EM 5 PARTES E LEGENDADO EM INGLÊS:



Dona Negra: 104 anos de trabalho e devoção


Do alto de seus 104 anos, Maria do Carmo da Silva Neiva – ou Dona Negra, como prefere ser chamada – se considera “feliz demais”. Ela impressiona não somente pela longevidade, mas pela lucidez e precisão de raciocínio, que lhe permitem emitir com facilidade conceitos filosóficos de vida e a desenterrar da memória fatos remotos, a maioria ocorridos em sua histórica Paracatu (MG). Extremamente religiosa, ela descreve com detalhes os interiores de igrejas há tempos destruídas pelo falso progresso e os processos políticos que desencadearam as demolições. Dona Negra é a própria memória viva de sua cidade. (Pervitin Filmes – 12 min – 2008)


* Dona Negra faleceu um ano depois do lançamento desse documentário, mas chegou a se ver na tela, ficou emocionada e se disse “feliz demais”. Descanse em paz!



Cólera

DVD com 15 faixas de uma das bandas punk mais importantes do Brasil. Show gravado com duas câmeras, em Brasília /DF no dia 02 de junho de 2006, durante o Festival Porão do Rock. (Pervitin Filmes 2008 - 49 min.)

Rattus

Apresentação histórica da banda punk finlandesa no Teatro Galpãozinho do Gama. Entrevistas em finlandês sem tradução que não servem para nada e imagens um tanto nervosas. Show à parte dos punks locais. (Pervitin Filmes 2007 - 43 min)

Garotos Podres/Inocentes

Split-dvd imperdível com duas das mais importantes bandas da primeira leva do movimento punk no estado de São Paulo. Gravado ao vivo no festival Porão do Rock (Brasília/DF) em 2007. Som impecável e entrevista hilária com o vocalista Mau, dos Garotos Podres. (Pervitin Filmes 2007 - 59 min)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Luz, câmera… cinema eleitoreiro em ação


Por Sandro Neiva

Em noite de gala na Sala Villa Lobos, do Teatro Nacional, teve início ontem o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O filme “Lula, o filho do Brasil”, do diretor Fábio Barreto, abriu a programação. O longa-metragem conta a história do metalúrgico que se torna presidente. E mais uma vez, você, pobre cara-pálida, não foi convidado.

Lula também não compareceu. Assistirá ao filme longe da plateia, quando chegar de Roma, mas o governador Arruda, a legião de chupa-tetas do GDF, deputados, senadores, ministros, secretários… estes tiveram poltronas numeradas e uísque escocês mais que garantidos. Dizem que até o Obama quer uma cópia do filme, que estará em cartaz nos cinemas brasileiros a partir de Janeiro de 2010.

Mas e quanto aos metalúrgicos, operários de São Bernardo do Campo, desempregados, fudidos, viciados, maltrapilhos, pé-rapados e os verdadeiros filhos do Brasil? ah… estes foram excluídos da festa da sétima arte em conluio com o poder. O governo federal recebeu 800 convites. A Sala Villa-Lobos tem capacidade para 1.322 pessoas. Deve ser essa a nossa tal democracia… ah, entendi… 2010 é ano de eleições presidenciais e, por mera coincidência, em todas as bancas de camelô do país haverá uma cópia pirata do filme, disponível a cinco reais.

Este é o cinema feito com dinheiro do Ministério da Cultura; o cinema que está na mão da família Barreto há décadas; é o cinema eleitoreiro-brasileiro em ação. E os convites vão para os endereços da mesma corja-de-vida-ganha, que paga R$ 10 mil pelo metro quadrado e R$ 500 mil por um apartamento de merda no futuro Setor Noroeste.


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O aborto burocrático de Oscar Niemayer‏



Por Sandro Neiva

Viver num cubículo de entrequadra comercial no centro de Brasília me faz refletir o quão abusiva e excludente é a arquitetura desenvolvida pelo senhor Oscar Niemayer. Essas moradias minúsculas, com janelas que não deixam passar mais do que a cabeça de seus inquilinos, são os indicativos maiores que a Capital Federal não passa de um equívoco urbanístico de primeira grandeza; um aborto burocrático que tem garantido aos gatunos a legitimação de uma riqueza sem origens e sem fundamento.

As pessoas que conseguem colocar os olhos e o intelecto para além do planalto, da planície e do Poder sabem que este lugar está longe de ser o paraíso que alguns bicho-grilos insistem em gargantear. “Ai, meu Deus! Mas aqui tudo é calmo, espaçoso, verde. A qualidade de vida é um sonho. A lua parece nascer logo ali na Praça dos Três Poderes. Tudo aqui é Zen...”

Com suas trezentas e tantas seitas a cidade transborda energia cósmica! Talvez os discos voadores estejam dando razantes rasteiros sobre a Esplanada, como se quisessem convencer a todos, que ali, no paraíso das politicagens, surgirá a cidade-modelo para o Terceiro Milênio.

O fato é que neste engendro monstruoso planejado para nutrir-se das entranhas de seus próprios habitantes, a teologia é sempre mais importante que a antropologia e Niemayer é quase um Deus.

Mas para nós – gente que nunca levou a sério os sonhos de Dom Bosco, que nunca considerou Juscelino um estadista e que jamais acreditou que o Arruda pudesse governar diferentemente do Roriz ou do Cristóvam, – o velho Oscar será sempre o profissional que jamais trabalhou para as classes desfavorecidas e nunca voltou os olhos para o mundo despedaçado dos pobres. O que fez de verdade foi servir aos poderosos e construir edifícios para o lucro fácil de uma elite febril e gananciosa. Nada além disso.


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sorria, você está sendo manipulado!




Por Sandro Neiva

Assistimos - meio embasbacados e atordoados - ao triunfo absoluto da máquina política sobre nossas mentes, nossos desejos e nosso próprio tempo. De acordo com a má fé das regras pré-estabelecidas pelos políticos, pelas religiões e pela imprensa, experimentamos a falsificação de nossas paixões.

Enquanto estávamos bêbados ou hipnotizados, o Estado se travestia de benevolência. Fez-de protetor dos oprimidos, deu voltas e rodeios, maquiou-se, passou batom nos lábios, purpurina nos olhos, siliconou os seios, auto denominou-se liberal, ético, progressista, cristão e defensor máximo dos direitos humanos. Tudo em nome de uma democracia platônica e fictícia.

Enquanto esbravejávamos, de pilequinho nos botecos, o monstro estatal concretizou a dominação. Sobreviveu a todas as maldições da turba desarmada, a todos os discursos libertários, a todas as greves e idealizações revolucionárias. No fundo, o mesmo impostor brutal de sempre.

E não arredou um passo. Não apenas sobreviveu, mas reatualizou seus truques de dominação e se fez mais Onipotente, derrotando e escravizando-nos de maneira absoluta.

Quer uma prova de nossa escravidão? Lembre-se que somos OBRIGADOS a pagar impostos e tributos. Estou sendo radical? Como assim? Esqueceu-se da água, luz, telefone, condomínio, Imposto de Renda, ISS (como autônomo e como funcionário), CPMF, IPTU, IPVA, CRP, estacionamento, plano de saúde e até licença para exercer a profissão? Faça as contas e verifique o que isso representa no seu pífio rendimento anual.

Sem mencionar os impostos indexados à comida, à gasolina, aos remédios, aos livros e até ao caixão mortuário que te levará desta vida para sempre. Sorria, você está sendo manipulado!



quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Zine Oficial lança coletânea com 24 bandas do underground brasiliense





Por Sandro Neiva

O Zine Oficial, capitaneado por Tomaz André, juntamente com o vocalista Felipe CDC, - em nobre e inovadora empreitada, - lançaram um CDr-coletânea com 24 bandas autorais do Distrito Federal e Entorno. Atitudes orgânicas e positivas como essa oxigenam a cena local do bom e velho rock’n’roll, unem o universo underground e garantem a diversão e satisfação pessoal dos historicamente oprimidos. As próprias bandas bancaram a gravação do disco, investindo 50 reais cada uma delas, para a compra de CDs virgens, gastos com serigrafia e masterização, realizados no ME Estúdio, em Taguatinga. Diversos estilos do rock estão presentes na coletânea, que está sendo vendida ao preço simbólico de DOIS REAIS. É isso mesmo! Para adquirir o disco você desembolsa apenas duas lascas, menos que uma cerveja. Lindo demais, né? A arte gráfica também merece destaque, com fotos e release de todas as bandas, além do desenho de um roqueiro regando um vaso que floresce música. Confesso que cheguei a ficar arrepiado quando escutei a faixa três, rockão da banda The Morffus. Mas tem vários outros sons legais. A dupla dinâmica Tomaz André e Felipe CDC ainda promete o Volume II. Parabéns e long live rock!

Entre em contato com zineoficial@gmail.com ou www.zineoficial.com.br e garanta seu disco.

Bandas que participaram da coletânea:

1) Barbarella
2) Luiza Fria
3) The Morffus
4) Trampa
5) Kábula
6) Faces do Caos
7) Canibais
8) Aversão
9) X-granito
10) Os Maltrapilhos
11) Prisão Civil
12) Perigo ao Poder
13) Totem
14) Tekila Hell
15) Black Buldog
16) Into the Dust
17) 7 Pele
18) Murro no Olho
19) Podrera
20) Mob Ape
21) Seconds Of Noise
22) Bruto
23) Moretools
24) Device

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Seu colega quer sua cabeça




Por Sandro Neiva

Tão ou até mais grave que o desemprego que assola o Brasil, é o assédio moral no ambiente de trabalho. O acosso ou assédio moral refere-se à pressão, à desqualificação, à perseguição, ao amedrontamento, às ameaças e ao abuso de poder que trabalhadores sofrem diariamente nos locais de trabalho.

Seja no âmbito dos serviços públicos, instituições de ensino ou das empresas privadas, o problema é grave; não é sequer mencionado pelos políticos e pode causar uma série de doenças pisicossomáticas nas vítimas, tais como a depressão e até suicídios.

O tema tem sido tratado com rigor pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que lançou no Canadá a publicação “Seu colega quer sua cabeça”. No texto, são identificadas as principais características desses agressores:

"... seres brutais, que desde a infância cultivam a inveja, destruindo a dignidade dos demais, voltando sua tirania para pessoas emocionalmente frágeis e que não podem permitir-se deixar o trabalho; empregados ambiciosos e incompetentes, que apropriam-se das ideias de colegas que consideram rivais, com a finalidade de conseguir ascensão ou se auto-promoverem intelectualmente perante os chefes; geralmente ocultam seus erros difamando companheiros de trabalho".

Esse tipo de conflito ocorre não somente entre chefes e subalternos, mas entre os funcionários de modo geral e tem transformado os ambientes de trabalho em verdadeiros focos de neurose coletiva e destruição mútua, comprometendo, além da saúde e da realização pessoal, os próprios serviços.

O silêncio e a negligência tornam o problema cada vez mais grave e fora de controle. Apesar das ações estéreis dos Departamentos de Recursos Humanos e do blá-blá-blá dos administradores, não há no Brasil nenhum critério para a ocupação de cargos de chefia e grande parte dos funcionários são desviados de suas verdadeiras funções.

Urge que os governos estabeleçam programas de prevenção contra o problema. Seria importante se os candidatos, no meio de tanto palavreado inútil, conseguissem lançar o olhar para bem mais além, quando se referem ao empreguismo - pois o problema não está apenas no desemprego, mas também no emprego pelo qual o trabalhador, em troca de uma remuneração miserável, é obrigado a submeter-se a humilhações, relações falsas e condições irracionais.



sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Entrevista com a banda Ratos de Porão (SP)


Por Sandro Neiva

Julho de 2001. RATOS DE PORÃO - a banda punk mais agressiva do planeta - toca em Brasília para cerca de 40 mil pessoas, no Festival Porão do Rock. Na época, a formação era Gordo, Jão, Boka e Fralda. Doente e mais obeso do que nunca, o vocalista João Gordo precisou de uma injeção no nervo ciático antes de subir ao palco. Na execução de várias músicas, teve que cantar sentado em uma cadeira. Lembro como fiquei impressionado com a pança, os pés inchados e a aparência geral de um dos caras que me ensinaram a gostar de punk rock. Cheguei a pensar que ele estava perto de bater os Ked’s. Como sabemos, João Gordo reduziu o estômago, virou papai e tornou-se figurinha fácil na TV. O grupo lançou em 2009 o documentário “Guidable, a verdadeira história do Ratos de Porão” e segue em frente.

Havia umas 40 mil pessoas no show desta noite. Vocês gostam de tocar para grandes plateias?
JOÃO GORDO – Eu gosto mais de tocar em lugarzinho pequeno, tá ligado? Soa mais aconchegante, é mais legal. Festival grande assim é foda, cara. Fica muito separado a coisa. É o público lá longe e você cá encimão. Tudo muito longe. Quer dizer, é legal porque é muita gente. Mas não é muito aconchegante, tá ligado? Quando o público fica mais próximo a coisa é muito mais louca.
BOKA – O Ratos de Porão é uma banda acostumada a tocar em qualquer lugar, cara. Já tocamos várias vezes em grandes festivais e tocamos também no chão, sem palco. Com o Ratos não tem disso. Tocamos para milhares de pessoas ou para um público composto apenas por fãs, como outras vezes, no Teatro Garagem, por exemplo, aqui mesmo, em Brasília. Tecnicamente, eu prefiro tocar em locais fechados, mais perto do público e de toda a energia. Essa energia se perde um pouco quando o show é ao ar livre. O ideal mesmo, em termos de equilíbrio, é tocar para um público de 500 pessoas. Mas também tanto faz. É nossa vida, nosso trabalho. Sempre tem graça.

Fralda, é verdade que o seu primeiro show com o RDP foi no exterior? como entrou na banda?
FRALDA – Meu primeiro show com o Ratos foi lá na gringa, em Portugal. Foi num festival para 32 mil pessoas em que tocaram The Cure, Therapy, Sonic Youth e uma pá de bandas. Eu ainda não havia feito nenhum show com a banda no Brasil e já peguei logo uma turnê de oito shows no exterior. Na verdade, meus dez primeiros shows foram meio desastre, meio foda, tá ligado? Só mais na frente eu fui pegando o jeito e me entrosando.

Boka, você entrou na banda em 1991, logo depois do lançamento do disco Anarkophobia. Foi uma parada que deu certo, não?
BOKA – Eu já era amigo dos caras desde a época do Psycho Possessor, minha banda anterior. A gente fazia umas Jam Sessions juntos. Eu me integrei legal. Não é qualquer cara que tem a manha de passar 70 dias espremido num furgão, como já fizemos várias vezes, nas turnês pelo exterior. Tem que haver muita paciência e respeito e a gente consegue lidar bem com isso.

O Guerra Civil Canibal foi o primeiro disco totalmente independente do Ratos, e saiu pela Pecúlio Discos (cujo proprietário é o baterista Boka). Mas saiu também um compacto pela Monstro Discos. Como foi a negociação?
BOKA – Sim. Esse disco saiu pela Pecúlio em CD e um compacto de 7 polegadas pela Monstro Discos, de Goiânia. É um pessoal que já tem tradição em vinis coloridos e é super gente fina. Chegamos pra eles e falamos: “o disco está em suas mãos”. Rolou tudo de forma tranquila. Foi também uma forma que encontramos pra não termos tanto trabalho.

O RDP foi uma das primeiras bandas a adionar o Hardcore ao Metal, criando o chamado Crossover. Isso nem sempre é bem visto por fãs mais conservadores. O que vocês pensam a respeito?
JOÃO GORDO – O RDP foi a primeira banda a fazer isso. Aqui no Brasil, foi a primeira. Quanto a esse tipo de pensamento, esses caras que se fodam, meu! Pau no cu desses punk’s radicais metidos a donos do mundo. São uns idiotas que pensam que sabem tudo, meu!
BOKA – Nós evoluimos musicalmente. Acrescentamos vários elementos ao nosso som, não só o simples hardcore, mas nunca perdendo aquela pegada característica. Sempre estivemos antenados no underground. Cara, quem gosta da banda é porque realmente se identifica. Nós não estamos pedindo pra que ninguém goste do Ratos de Porão. Mas conosco rola algo engraçado: em nossos shows não vai ninguém de curioso. Só tem fã de verdade em todos os shows. Somos uma banda 100% independente que consegue certo espaço na mídia, que outras bandas da mesma linhagem não conseguem. Isso gera inveja.

Quantas vezes o Ratos de Porão excursionou pela Europa e Estados Unidos?
GORDO – Ah, não sei. Um monte de vezes, cara! Desde 1990 a gente viaja para o exterior. Nos Estados Unidos é diferente pra caramba. É outra história, meu. Os shows lá são de fato o underground porque os caras querem ser de fato o underground. É show no chão, cara. Não tem produção nenhuma de palco, nada. Boteco, saca? Muito louco isso.
BOKA – Perdi a conta de quantas turnês a banda já fez no exterior. Na Itália nós tocamos em um monte de squats. Mas lá esses locais são enormes, para cerca de 700 pessoas. O punk’s italianos e franceses são uns pirados. Nos Estados Unidos tocamos no CBGB.

Vocês também tocaram em lugares obscuros como Eslovênia e Croácia. Qual o lugar que acharam mais louco?
JOÃO GORDO – A gente tocou muito numas ilhas e foi muito louco. Ilhas tipo Maiorca, Ilhas Canárias, Teneriff, Eslovênia, Croácia, República Tcheca. Uns lugares assim, bem difíceis de ir, tá ligado? Pra gente é bem bizarro esse tipo de lugar, saca? Nós temos fãs no mundo inteiro, meu. Na Itália, França, Portugal e Espanha tocamos em centros culturais enormes. Na França e Itália tinha coisa bem punk mesmo.
BOKA – Cada país tem uma onda diferente, mas o leste europeu é muito fodido. Os fãs são muito loucos. Não no sentido violento, mas no sentido de amar a banda.

Dizem que em alguns países como a República Tcheca, os punk’s cantam as músicas do Ratos de Porão em portugês. Qual a reação de vocês ao observarem isso?
BOKA – É lógico que quando vimos aquilo pela primeira vez foi fantástico, muito engraçado, mas hoje achamos até normal.
JOÃO GORDO – Eles sabem cantar o refrão, né cara? É legal e meio que compensador, entende? Você saber que uns caras do outro lado do mundo estão cantando uma música que você fez lá na sexta-série. Isso é do caralho, meu!

Como é o esquema de produção dessas turnês? As gravadoras já bancaram alguma coisa?
BOKA – Gravadora nenhuma jamais bancou nenhuma excursão nossa para o exterior. Juntamos grana para as passagens aéreas, acertamos tudo, alugamos uma van, e nós mesmos agendamos os shows. Nos viramos como podemos. Cartão de crédito, cheque emprestado, qualquer coisa vale. Nós damos nosso jeito.
JOÃO GORDO – Gravadora não banca nada, véio. Só tem pilantra nesse meio. Só o Boka é honesto.

Quanto custa uma turnê dessas? Dá pra sobrar algum?
JOÃO GORDO – Sobrar, sobra. Tem muito gasto. É gasto pra caralho, meu. Mas quem manja de turnê mesmo é o Boka aqui, cara. O Boka é o empresário do rock. Baterista, pai de família, empresário bem sucedido, ex-maconheiro e surfista, ainda por cima.
BOKA – Uma turnê assim custa em torno de 30 a 45 mil. Apesar dos gastos, dá pra sobrar alguma coisa.

Vocês já passaram pela Roadrunner, Cogumelo, Baratos & Afins, Paradoxx. Afinal, gravadora não vale mesmo a pena para uma banda como o Ratos?
BOKA – A parceria com outras gravadoras é muito mais interessante pra nós porque temos nosso trabalho distribuído mundialmente com total controle. A Alternative Tentacles (selo de Jello Biafra, ex-Dead Kennedys) lançará nosso ultimo disco em vinil de 10 polegadas, que é um formato superlegal e diferente. A Paradoxx foi a única gravadora que fez um bom trabalho de distribuição e os caras são mais sérios. Na Roadrunner foi foda. Eles impuseram que nossos discos também deveriam sair com letras em inglês. Na minha opinião, o Just Another Crime é nosso pior trabalho. Eu tinha pouco tempo de banda e havia pressão da gravadora. A única música desse disco que a gente leva em shows é SuposiCollor, que também é a única em português.
JÃO – Gravadora grande é uma puta mafia, meu.

Vocês devem encontrar muita gente louca nessas turnês. Rolam muitas drogas e groupies?
BOKA – Se você quiser, rola com certeza. Eu, como baterista, preciso de preparo físico e concentração. Não dá mais pra ficar zoando tanto, como antigamente. Estou mais quieto. Quanto às garotas, nós nem somos uma banda que tenha o perfil para esse tipo de coisa. Eu sou casado há muitos anos, o Jão também. No início da década de 1990 todos nós estávamos muito mais abertos a tudo isso.

Depois de tanto tempo tocando e viajando juntos, já deve ter rolado umas tretas e discussões, certo?
BOKA – É que nem uma família, cara. É lógico que rolam discussões. Num dia está quebrando o pau, no outro se arrepende, se respeita e está tudo bem de novo. É complicado. Não é para qualquer um, cara. Tem que haver paciência, saber respeitar a opinião e o direito do outro.

Jão, você que é o único membro da formação original, me diz, quais as diferenças básicas da cena punk que surgiu em São Paulo em 1978 e o que rola hoje em dia?
JÃO – Como cena musical, ainda existe e é bem forte. Agora, como movimento, eu diria que é meio dispersivo. Tudo é muito equivocado, saca? Não há união para se construir um lance melhor. Sei lá, às vezes é mais fácil ficar falando mal do Ratos de Porão, por exemplo, do que tentar mudar alguma coisa.

Em 1983 as bandas punk’s de São Paulo, incluindo o RDP, foram tocar no Circo Voador, Rio de Janeiro. Esse episódio repesentou a primeira tentativa de organização do movimento em nível nacional. Gostaria que você comentasse o episódio.
JÃO – Eu era muito moleque, estava indo ao Rio pela primeira vez e fiquei muito louco. Fazia um puta calor de rachar, o Circo Voador estava lotado e eu pirei, né, velho? Na época, a gente não tinha noção do lance histórico, que aquilo iria se tornar um acontecimento histórico.

Tenho a impressão que a banda está mais clean. Todos pararam de fumar cigarro, né?
BOKA – Com certeza. Estamos mais sossegados. O Gordo não está muito bem de saúde. Eu particularmente, não gosto de cigarro.

Jão, li na internet um artigo chamado “o movimento punk no Brasil”, assinado pelos Ratos de Porão. O texto termina com a frase: “Os punk’s voltaram para a periferia como todo filho pródigo volta ao lar”. Pode comentar a respeito?
JÃO – Eu sempre morei na periferia. Então eu não estou voltando porque nunca saí, né, velho? (risos). Moro na região de Pirituba, que é periferia de São Paulo.



quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A fútil felicidade dos emergentes




Por Sandro Neiva

Corretores, atravessadores, donos de imobiliárias e outros especuladores deste ramo profissional estão eufóricos na Capital da República. O futuro Setor Noroeste — apesar de ser ainda uma enorme área de cerrado virgem, já bate recordes no preço do metro quadrado.

Ali, no novo bairro que está sendo construído para uma suposta elite, todos os apartamentos são de três ou quatro quartos, com área entre 127m² e 318m². O imóvel mais barato custou R$ 942 mil e o mais caro — uma cobertura privativa — saiu por R$ 2,5 milhões. Tudo foi comercializado em uma semana pela Brasal Incorporadora e pela Lopes Royal Empreendimentos.


Lúcio Costa — a eterna vaca sagrada da urbanística — previu o Setor Noroeste no documento “Brasília Revisitada”, de 1987. Desde então, os empresários do mercado imobiliário estão nas esquinas com mapas, folders, ilustrações futuristas, fichas de inscrição e claro, a tabela de preços.

O preço dos imóveis – mais alto que nos arredores de Paris ou na orla de Maceió - já seria uma afronta à inteligência de qualquer ser pensante. Mas ninguém dá um pio. Todos estão felizes por poder comprar o seu apartamentozinho de merda em 20 ou 30 anos, mesmo que depois tenham que dar o cu nas esquinas para poder pagar as prestações e o condomínio.

Gatunos vitimados pela gatunagem; presas fáceis de qualquer máfia que venha a prometer-lhes que, da noite para o dia, irão ascender ao pódio da classe média alta, com direito a status de novo-rico. Sacam o celular do bolso do paletó e contam a novidade para os amigos. Estão radiantes. Isto é a felicidade para esse tipo de idiota.


quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Mais um imposto absurdo



Por Sandro Neiva



O Poder em Brasília segue delirante. Não bastasse a proposta para o ressurgimento da famigerada CPMF, o governo federal desta vez pretende criar um imposto sobre os livros. Por meio da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (CIDE), pretende-se impor um sobrepreço que incide sobre editoras, distribuidoras e livrarias. O efeito é óbvio: livros mais caros ao consumidor.


O deboche embutido na medida governamental é explícito. De acordo com a proposta, o dinheiro arrecadado seria usado, acreditem vocês, em programas de incentivo à leitura! Incoerência e cretinice absurdas. Ora, qual seria maior incentivo à leitura que baratear o preço dos livros?


Não é preciso muita astúcia para perceber que o hábito da leitura – já tão combalido no Brasil atual - diminuirá, ao invés de aumentar, se depender dos burocratas do planalto central. Num país de milhões de analfabetos, no qual o próprio presidente não é muito afeito à leitura, literalmente paga caro aquele que ainda ousa ler.


Por falar no presidente, na semana passada Lula causou espanto nas rodas intelectuais da corte ao afirmar que estaria lendo “Leite Derramado”, último romance de Chico Buarque de Holanda. Nada mais apropriado. O leite derramou faz tempo.